sexta-feira, 24 de março de 2006

Sem tempo!

Chama-se amor a isto:
beber horas roubadas,
no receio constante
de que alguém as descubra
____(assim se tem cadastro!):
Morder com muita pressa
a polpa dos minutos,
sem lhes sorver o sumo,
sem lhes tirar a casca
____(assim se apanham úlceras!)
Ter este modo brusco
de engolir os segundos,
como se fossem cápsulas
de qualquer barbitúrico
____(assim se morre Às vezes!)
O culpado: este cão
que trazemos bem preso,
todo agarrado ao pulso,
e que chamamos Tempo.
____(sempre a ganir de susto.)
David Mourão-Ferreira

10 comentários:

Anónimo disse...

O tempo...
esse jovem que comanda a nossa vida...
que corre,
que não volta atrás,
que por vezes não nos dá oportunidade de pensar 2 vezes porque ele não pode parar,
por isso nos obriga a "beber horas roubadas",
a "morder com muita pressa a polpa dos minutos",
a "engolir segundos"...
É um comboio que não espera por nós...

Ah tempo!...
Porque não páras um bocadinho?
Porque teimas em fugir entre os dedos das mãos como grãos de areia?
A vida é isto: o tempo passa,
e nós, actores em palco, quando nos apercebemos já o pano está a descer... acabou a peça!

E no final virá a questão: "Aproveitei o meu tempo?"

Anónimo disse...

O problema está aí, exactamente aí, no final!
Quando é o final?
Quem saberá?
Haverá "tempo" para perguntas?
.
Extraordinário poema.
Parabéns pela escolha e mais uma vez pelo blog.

Hata_ mãe - até que a minha morte nos separe Hugo ! disse...

O poema escolhido é muito bonito, cada um lhe dá o sentido que quizer, A poesia é isso mesmo.
Um beijo

Anónimo disse...

Um lindo poema, muito mesmo!
Um beijo*

Isabel José António disse...

Caro Sílvio Alguém

O tempo não é só o passar dios minutos, dos dias, dos anos.

O tempo pode ser psicológico quando a nossa mente se recusa a viver no presente. Então tudo quanto está para trás registado, qual disco de computador, reage sempre da mesma maneira, dá sempre o mesmo tipo de respostas, funciona como se fora em "piloto automático".

Haverá alguma maneira de pôr fim a esse estado de consciência em que não olhamos, não temos tempo, não vemos, não sabemos?

O poema transcrito é muito bonito.

Como prende deixo-lhe aqui um pequeno "poema" com o seu nome lido na vertical com as primeiras letras de cada verso:

Alguém é uma indefinição
Lutando para querer Ser
Ganhando e perdendo a razão
Ultima palavra para se saber
E um estado de alma, do coração
Mais profundo que o próprio VER

Sintoniza ao Cosmos tua vida
Ilude a natureza do tempo
Lava teu Ser na Paz tão querida
Vem até ao infinito com o vento
Interroga-te sobre toda a ferida
Ousa afastar de ti todo o lamento

Um grande abraço

José António

Jay Dee disse...

A imagem de Dalí... luv it

Isabel José António disse...

Sílvio,

Não era para agradecer
O que nos sai do coração
Para olhar é preciso VER
Com a emoção e a razão

Somos tudo aquilo que há
Em nós estão todas as sementes
Há que deixá-las florescer já!

Um abraço e voltarei sempre! Volta também que tanto, tanto para partilharmos.

José António

Anónimo disse...

Amor é tudo aquilo que sentimos,
dizemos e fazemos por aquele alguém que dá um sentido especial à nossa vida e para quem temos (ou devemos ter)... todo o tempo do mundo!

Anónimo disse...

O velho e querido David...

:)

Alguém disse...

Q honra p/ mim ter sido as palavras de David Mourão-Ferreira a proporcional o maior (ou dos maiores) numero de comentários.
Bem ha-já!