"Beijo na mão, estalo na
cara, andar de mãos dadas, puxão de cabelo,
beijo na testa, palavrão, apelido carinhoso,
mordida na boca, na língua, no ombro… Assim
poderíamos
resumir toda a boa relação.
Não, este não é o momento de confundir tesão
com sexismo e
me acusarem de ser um ogre e
virem com toda aquela conversa chata
para a qual não tenho a menor paciência. Ao
invés disso, vem cá, pega uma cerveja, puxa
uma cadeira e
vamos conversar.
Não há nada mais idiota do
que tentar polarizar a experiência
afetiva. A gente faz amor, a gente transa, a
gente come, a gente é comido, e só assim temos a
possibilidade de sermos imensamente felizes,
nem que seja por um momento ou dois. Não
somos menos humanos por isso, nem somos
melhores ou piores, essa mania de pôr
regras em tudo o que se pode e o que não se
pode fazer é coisa de gente mesquinha.
Tudo o que se passa na cama depende de
timing, de desejo, de disposição, não de regras
– e vejam só que irónico, o mesmo vale para a relação amorosa fora dela.
Eu, particularmente,
acredito na nudez, acredito no corpo, o que não significa superficialidade e descaso
com os sentimentos. Acredito no corpo porque é nele que os sentimentos habitam, é
através dele que se manifestam.
Essa divisão entre amor e
sexo é no mínimo desmotivante, o tipo de coisa que só intelectualzinho frustrado e
zen-budista-xamã-transcendental tem prazer em fazer. Pura masturbação mental (ou
metafísica, no caso do segundo tipo).
Tanta coisa para fazer,
tantas partes do corpo para experimentar com a língua, com os dedos, com as mãos, e há
gente que ainda prefere perder tempo a preocupar-se em discutir o que fica bem e
o que não fica do que sentir e fazer o que tem vontade. Sexo não é política, porra!
Talvez o segredo esteja em
encarar cada gemido com a mesma intensidade que encaramos um elogio fofo.
Sou capaz de trocar qualquer “lindinho” por uma palavra obscena sussurrada ao
ouvido.
Cá entre nós, se existe um
território neutro em toda essa guerra de instinto contra sentimento, esse lugar é a
cama. Lá os tratados de paz são selados com suor, com saliva e pele. É lá que se faz
trégua, que alianças são feitas, que sentenças são dadas. Lá qualquer conflito
acaba quando os corpos entram em atrito.
Dois lados de uma mesma
moeda, duas notas de uma mesma melodia. Em vez de ficares preocupado(a) a
pensar se ele(a) só quer ir para a cama contigo, quando é isso que tu também queres de
alguma maneira, pensa que se for amor, amém; se for tesão, também. Afinal, o corpo
(e o coração que está dentro dele) é de quem?"
Texto de Jocê Rodrigues