domingo, 27 de novembro de 2005

Geração (à) Rasca

Já lá vai algum tempo que li o texto q se segue, por me identificar a 100% com ele, achei que seria justo e em certa parte honroso para todos aqueles que como meu pertencemos à "Geração à Rasca"
Vale a pena pensar nisto...

Em conversa com o irmão mais novo de um amigo, cheguei a uma triste conclusão.A juventude de hoje, na faixa que vai até aos 20 anos, está perdida.E está perdida porque não conhece os grandes valores que orientaram os que hoje rondam os trinta.O grande choque, entre outros nessa conversa, foi quando lhe falei no Tom Sawyer.“Quem?”, perguntou ele. Quem?! Ele não sabe quem é o Tom Sawyer! Meu Deus…Como é que ele consegue viver com ele mesmo? A própria música: “Tu que andas sempre descalço, Tom Sawyer, junto ao rio a passear, Tom Sawyer, mil amigos deixarás, aqui e além…” era para ele como o hino senegalês cantado em mandarim.Claro que depois dessa surpresa, ocorreu-me que provavelmente ele não conhece outros ícones da juventude de outrora. O D’Artacão, esse herói canídeo, que estava apaixonado por uma caniche; Sebastien et le Soleil, combatendo os terríveis Olmecs; Galáctica, que acalentava os sonhos dos jovens, com as suas naves triangulares; O Automan, com o seu Lamborghini que dava curvas a noventa graus; O mítico Homem da Atlântida, com o Patrick Duffy e as suas membranas no meio dos dedos; A Super-Mulher, heroína que nos prendia à televisão só para a ver mudar de roupa (era às voltas, lembram-se?); O Barco do Amor, que apesar de agora reposto na Sic Radical, não é a mesma coisa. Naquela altura era actual…; E para acabar a lista, a mais clássica de todas as séries, e que marcou mais gente numa só geração: O Verão Azul.Ora bem, quem não conhece o Verão Azul merece morrer. Quem não chorou com a morte do velho Shanquete, não merece o ar que respira. Quem, meu Deus, não sabe assobiar a música do genérico, não anda cá a fazer nada.Depois há toda uma série de situações pelas quais estes jovens não passaram, o que os torna fracos. Ele nunca subiu a uma árvore! E pior, nunca caiu de uma. É um mole. Ele não viveu a sua infância a sonhar que um dia ia ser duplo de cinema. Ele não se transformava num super-herói quando brincava com os amigos. Ele não fazia guerras de cartuchos, com os canudos que roubávamos nas obras e que depois personalizávamos. Aliás, para ele é inconcebível que se vá a uma obra. Ele nunca roubou chocolates no Pingo-Doce. O Bate-pé para ele é marcar o ritmo de uma canção.Confesso, senti-me velho…Esta juventude de hoje está a crescer à frente de um computador. Tudo bem, por mim estão na boa, mas é que se houver uma situação de perigo real, em que tenham de fugir de algum sítio ou de alguma catástrofe, eles vão ficar à toa, à procura do comando da Playstation e a gritar pela Lara Croft. Óbvio, nunca caíram quando eram mais novos. Nunca fizeram feridas, nunca andaram a fazer corridas de bicicleta uns contra os outros. Hoje, se um miúdo cai, está pelo menos dois dias no hospital, a levar pontos e a fazer exames a possíveis infecções, e depois está dois meses em casa a fazer tratamento a uma doença que lhe descobriram por ter caído. Doenças com nomes tipo “Moleculum infanticus”, que não existiam antigamente. No meu tempo, se um gajo dava um malho (muitas vezes chamado de “terno”) nem via se havia sangue, e se houvesse, não era nada que um bocado de terra espalhada por cima não estancasse. Eu hoje já nem vejo as mães virem à rua buscar os putos pelas orelhas, porque eles estavam a jogar à bola com os ténis novos. Um gajo na altura aprendia a viver com o perigo. Havia uma hipótese real de se entrar na droga, de se engravidar uma miúda com 14 anos, de apanharmos tétano num prego enferrujado, de se ser raptado quando se apanhava boleia para ir para a praia. E sabíamos viver com isso. Não estamos cá? Não somos até a geração que possivelmente atinge objectivos maiores com menos idade? E ainda nos chamavam geração “rasca”… Nós éramos mais a geração “à rasca”, isso sim. Sempre à rasca de dinheiro, sempre à rasca para passar de ano, sempre à rasca para entrar na universidade, sempre à rasca a ver se a namorada estava grávida, sempre à rasca para tirar a carta, para o pai emprestar o carro. Agora não falta nada aos putos. Eu, para ter um mísero Spectrum 48K, tive que pedir à família toda para se juntar e para servir de prenda de anos e Natal, tudo junto. Hoje, ele é Playstation, PC, telemóvel, portátil, Gameboy, tudo. Claro, pede-se a um chavalo de 14 anos para dar uma volta de bicicleta e ele pergunta onde é que se mete a moeda, ou quantos bytes de RAM tem aquela versão da bicicleta.Com tanta protecção que se quis dar à juventude de hoje, só se conseguiu que 8 em cada dez putos sejam cromos. Antes, só havia um cromo por turma. Era o tóto de óculos, que levava porrada de todos, que não podia jogar à bola e que não tinha namoradas. É certo que depois veio a ser líder de algum partido, ou gerente de alguma empresa de computadores, mas não curtiu nada. Hoje, se um puto é normal, ou seja, não tem óculos, nem aparelho nos dentes, as miúdas andam atrás dele, anda de bicicleta e fica na rua até às dez da noite, os outros são proibidos de se dar com ele.Valha-me Deus. “What’s wrong with the world, momma?”

8 comentários:

Noa disse...

Oi Síl, td bem? Não poderia deixar de dar o meu contributo. E por falar em geração, hoje em dia as crianças não sabem nem o que é um pião, aquele, feito de madeira, que rodopia sem parar se embalado por uma corda....o pião de hoje é electrónico, fala e anda em guerra!
Meu Deus! What´s wrong withe the world momma?!!!!
Beijus
Noa

Noa disse...

Oi mais uma vez. Não quis ir dormir sem desejar boa noite!
Adorei a poesia.
Mando uma também, do hetrónimo Ricardo Reis:

"Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és no mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive"

Noa

armando s. sousa disse...

Exceptuando o roubar chocolates no Pingo-Doce, porque eu tirava-os no tasco do meu avô, assino o texto por baixo.
Um abraço.

Mónica disse...

Bem eu acho que tudo tem o seu tempo e o mundo caminha para a superprotecção dos humanos em detrimento da natureza.
Quem não vive em contacto com a natureza nunca a conseguirá respeitar e o mundo vai caminhando num único sentido e quem sabe onde terminará?

Geração rasca, a nossa, a minha não foi de certeza. apesar dos meus 24 aninhos acho que tenho o peso de toda a responsabilidade que desde cedo tive de assumir.
Responsabilidade, liberdade, esforço para conseguir atingir os objectivos, nada dado de mão beijada. Tudo conquistado a muito custo.

Concordo em tudo...

:)

Anónimo disse...

A infância das crianças de hoje não é vivida da mesma forma que a infância das crianças de há 15 ou 20 anos atrás... Na altura nem se sabia o que era um computador.. era uma máquina que fazia coisas muito avançadas e que só existia na televisão ou no gabinete do patrão dos pais...memória?! era o que tínhamos que usar para fixar a tabuada!

Como era bom jogar ao "trinca-cevada" e levar com os vizinhos matulões em cima das nossas pobres costas, à barra do lenço e malhar no chão quando se ia a fugir para o outro lado para marcar mais pontos... e lá ficava mais uma "esfarrapadela" nos joelhos! bons e velhos tempos...

Hoje não se vão chamar os miúdos à rua, vão se chamar ao quarto e quantas vezes dar um berro para largar o gameboy!! E a natureza é só quando vão fazer um piquenique com a família (que seca!). A rua é só para pisar por breves instantes até entrar no carro! não há piões, não há carrinhos de rolamentos,... só há robots, bonecos feios cheios de espadas, armas e bombas!

Enfim... não tiveram a oportunidade de conhecer personagens tão espectaculares como o Tom Sawyer, não sabem o que era o Verão Azul...mas, pelo menos para nós, a música ficou para sempre... agora recorda-se no toque do telemóvel dos amigos! ;)

Dah_man disse...

depois de ler o texto e os comentarios só quero dizer uma coisa.
Um sincero Muito Obrigado!

vero disse...

:)

Passei p deixar um beijinho***

ronak disse...

eu sou o cromo de oculos que apanha porrada todos os dias na escola, lol. post muito bacano e um enorme blog parabens