sexta-feira, 7 de abril de 2006

Desejo

Desejo primeiro, que tu ames. E que amando, também sejas amado.
E que, se não o for, sejas breve em esquecer. E esquecendo, não guardes mágoa.
Desejo pois, que não sejas assim. Mas se fores, saibas ser sem desesperar.
Desejo também que tenhas amigos, que mesmo maus e inconsequentes, sejam corajosos e fiéis.
E que, pelo menos num deles, tu possas confiar sem duvidar.
E porque a vida é assim, desejo ainda, que tu tenhas inimigos; nem muitos, nem poucos.
Mas na medida exata para que, algumas vezes, tu te interpeles a respeito de tuas próprias certezas.
E que entre eles, haja pelo menos um que seja justo, para que tu não te sintas demasiado seguro.
Desejo depois que tu sejas útil, mas não insubstituível.
E que nos maus momentos, quando não restar mais nada, essa utilidade seja suficiente para manter-te de pé.
Desejo ainda que tu sejas tolerante; não com os que erram pouco, porque isso é fácil.
Mas com os que erram muito e irremediavelmente. E que, fazendo bom uso dessa tolerância, sirvas de exemplo aos outros.
Desejo que tu, sendo jovem, não amadureças depressa demais.
E que sendo maduro, não insistas em rejuvenescer.
E que sendo velho, não te dediques ao desespero.
Porque cada idade tem o seu prazer e a sua dor. E é preciso deixar que eles escorram entre nós.
Desejo por sinal, que tu sejas triste; não o ano todo, mas apenas um dia.
Mas que nesse dia descubras que o riso diário é bom; o riso habitual é insosso e o riso constante é insano.
Desejo que tu descubras, com o máximo de urgência, acima e a despeito de tudo, que existem oprimidos, injustiçados e infelizes. E que estão à tua volta.
Desejo ainda que tu afogues um gato, alimentes um cuco e ouças o "João-de-barro" erguer triunfante o seu canto matinal.
Porque assim, tu sentirás bem por nada.
Desejo também que plantes uma semente, por mais minúscula que seja.
E acompanhes o seu crescimento, para que saibas de quantas muitas vidas, é feita uma árvore.
Desejo outro sim, que tenhas dinheiro, porque é preciso ser prático.
E que pelo menos uma vez por ano, coloques um pouco dele na tua frente e digas "Isso é meu."
Só para que fique claro, bem claro, quem é o dono de quem.
Desejo também que nenhum dos teus afectos morra, por eles e por ti.
Mas, se morrer, tu possas chorar sem te lamentares e sofrer sem te culpares.
Desejo por fim que tu sendo um homem, tenhas uma boa mulher.
E que sendo uma mulher, tenhas um bom homem.
E que se amem hoje, amanhã e no dia seguinte.
E quando estiverem exaustos e sorridentes, ainda haja amor para recomeçar.
E se tudo isso acontecer, não tenho mais nada a te desejar.
Victor Hugo

8 comentários:

Anónimo disse...

E a isso tudo se chama saber viver e ser feliz! =)
Nao conhecia este texto, esta simplesmente fabuloso!
Obrigado por partilhares.
Beijinho doce*

Anónimo disse...

Este texto é o espelho da vida. Na vida tudo tem o seu momento... Cada coisa no seu tempo e com a sua medida: nem muito nem pouco - o suficiente para lhe darmos o devido valor e aprendermos se necessário for.

Mónica disse...

Olá,

tudo tem que ter peso e medida...

BJS

:)

Anónimo disse...

E que a força do medo que tenho
não me impeça de ver o que anseio.
Que a morte de tudo o que acredito
não me tape os ouvidos nem a boca.
Porque metade de mim é o grito,
mas a outra metade é silêncio.
Que a música que eu ouço ao longe,
seja linda, ainda que tristeza.
Que o homem que eu amo seja prá sempre amado,
mesmo que distante.
Porque metade de mim é partida
e a outra metade é saudade.
Que as palavras que eu falo
não sejam ouvidas como prece
nem repetidas com fervor,
apenas respeitadas,como a única coisa
que resta a uma mulher inundada de sentimento.
Porque metade de mim é o que ouço,
mas a outra metade é o que calo.
Que essa minha vontade de ir embora
se transforme na calma e na paz que eu mereço.
Que essa tensão que me corrói por dentro
seja um dia recompensada.
Porque metade de mim
é o que penso e a outra metade é um vulcão.
Que o medo da solidão se afaste,
Que o convívio comigo
mesmo se torne ao menos suportável.
Que o espelho reflita em meu rosto
o doce sorriso que me lembre a liberdade da infância
Porque metade de mim é a lembrança do que fui,
a outra metade eu não sei.
Que não seja preciso mais do que uma simples alegria
para me fazer aquietar o espírito
E que o teu silêncio me fale cada vez mais.
Porque metade de mim é abrigo,
mas a outra metade é cansaço.
Que a arte nos aponte uma resposta,
mesmo que ela não saiba.
E que ninguém a tente complicar
Porque é preciso simplicidade para fazê-la florescer.
Porque metade de mim é a platéia,
e a outra metade é canção.
E que a minha loucura seja perdoada,
Porque metade de mim é amor, e a outra metade...também
Vinícius de Morais

Noa disse...

Há qto tempo não passava por aqui. Estou super atarefada, não tenho tido tempo pra nada.
Que lindo texto Sílvio. Muito bonito mesmo. Grande Victor Hugo! Que Deus o tenha.
Obrigada por, mais uma vez, partilhar conosco, do mundo dos blogs, mais um texto sensível e humano.
Vc é uma gracinha de pessoa. Um beijo

Hata_ mãe - até que a minha morte nos separe Hugo ! disse...

Muito Bem Silvio
Um bom desejo para todos, amiguito.
Boa Pascoa
Beijos

Rose disse...

Alguém
Bonito isso, sou fã de Victor Hugo.

abraços

riscos disse...

Haverá desejo maior
e com mais valor
que o próprio amor?