quarta-feira, 19 de abril de 2006

Ausência...

Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar os teus olhos que são doces
Porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente exausto.
No entanto a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida
E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz.
Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado.

Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados
Para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada
Que ficou sobre a minha carne como nódoa do passado.
Eu deixarei... tu irás e encostarás a tua face em outra face.
Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada.

Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu, porque eu fui o grande íntimo da noite.
Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa.
Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço.
E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado.
Eu ficarei só como os veleiros nos pontos silenciosos.
Mas eu te possuirei como ninguém porque poderei partir.
E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas.
Serão a tua voz presente, a tua voz ausente, a tua voz serenizada.
Vinicius Moraes

6 comentários:

riscos disse...

Que lindo!
Não podemos deixar morrer o que existe em nós. E se algo não podemos ter, então ficarão as eternas lembranças, onde quer que se esteja, porque do coração ninguém pode apagar nada.

Isa e Luis disse...

Obrigada pela partilha e pelo momento Adorei!

"As memorias essas nem o tempo apagará"


Tem um dia delicioso

Beijos

Isa

Noa disse...

E viva Vinícius de Moraes!
bjs

Jay Dee disse...

Muito bonito

Anónimo disse...

Lindissimo, perfeito!! :)

Um beijinho*

Anónimo disse...

Numa ausência tão presente...

Eternos sejam os momentos celestiais!!!