quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Everytime...

Ternura

Desvio dos teus ombros o lençol,

que é feito de ternura amarrotada,

da frescura que vem depois do sol,

quando depois do sol não vem mais nada...



Olho a roupa no chão: que tempestade!

Há restos de ternura pelo meio,

como vultos perdidos na cidade

onde uma tempestade sobreveio...



Começas a vestir-te, lentamente,

e é ternura também que vou vestindo,

para enfrentar lá fora aquela gente

que da nossa ternura anda sorrindo...



Mas ninguém sonha a pressa com que nós

a despimos assim que estamos sós!



David Mourão-Ferreira, in

"Obra Poética"

Sem comentários: